Lembro da águia azul bordada
nas costas da sua jaqueta jeans.
Era tempo de fruta de vez,
quando eu sonhava com querubins.
Todos nós falávamos no corpo a corpo
e nossos sapatos tocavam a rua.
E eu na plataforma, passagem na mão
pra viajar debaixo da lua.
A luz azul se acendeu, conectou
e a gente esqueceu como é viver.
O carteiro parou de me chamar.
Não sei mais cor do anoitecer.
O homem inventou o avião
e novos jeitos e meios
de saber da minha vida.
E só o que não mudou
e que sempre tem alguém de saída.
Lembra das viagens de caminhão
com o vento tornando tudo melhor?
O mundo ainda é muito pequeno
e o cyber espaço é ainda menor.
E os nossos olhos foram se perdendo
nos clarões dos flashes e selfies virais.
Aquelas cirandas de sábado à noite
disseram adeus pra nunca mais.
O velho cais agora está tão vazio
sem vozes e violões na madrugada.
Somos todos almas penadas virtuais
em um além de dados e nada.
O ser humano voou
por entre paredes e vãos
onde não havia nenhuma saída.
Muita gente ainda chega
mas sempre tem alguém de partida.