segunda-feira, 12 de maio de 2014

Velha Guarda

Lembro da águia azul bordada
nas costas da sua jaqueta jeans.
Era tempo de fruta de vez,
quando eu sonhava com querubins.

Todos nós falávamos no corpo a corpo
e nossos sapatos tocavam a rua.
E eu na plataforma, passagem na mão
pra viajar debaixo da lua.

A luz azul se acendeu, conectou
e a gente esqueceu como é viver.
O carteiro parou de me chamar.
Não sei mais  cor do anoitecer.

O homem inventou o avião
e novos jeitos e meios
de saber da minha vida.
E só o que não mudou
e que sempre tem alguém de saída.

Lembra das viagens de caminhão
com o vento tornando tudo melhor?
O mundo ainda é muito pequeno
e o cyber espaço é ainda menor.

E os nossos olhos foram se perdendo
nos clarões dos flashes e selfies virais.
Aquelas cirandas de sábado à noite
disseram adeus pra nunca mais.

O velho cais agora está tão vazio
sem vozes e violões na madrugada.
Somos todos almas penadas virtuais
em um além de dados e nada.

O ser humano voou
por entre paredes e vãos
onde não havia nenhuma saída.
Muita gente ainda chega
mas sempre tem alguém de partida.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Amigo Léo




Quando ele chega em minha porta
E pede minha rubrica e RG,
Espero sempre receber um pacote seu
Com um coração apaixonado
enfeitado com confete e um cartão dizendo:
Ele é seu.
Pelo menos um postal,
com foto de uma igrejinha bem velhinha
de um interior qualquer lá das Gerais.

Então eu lembrei:
Que ninguém mais envia cartas,
o romance acabou.
O carteiro já não trás mais versos, cartinhas de amor.
E não corre do cachorro,
me entrega a fatura do cartão.

E ele não trouxe nada seu,
Nem telegrama, aerograma e nem um oi.
E depois, eu assinei e recebi,
ele se foi e eu entrei.
Abri um envelope pequeno
que não trazia nada de você.
Era uma carta de cobrança me falando
que meu nome estava no SPC.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Meu Candidato



Vou votar em um "pipuco"
Assim estarei no lucro
E não ficarei puto
Com nenhum governo caduco
Mesmo que eu pareça maluco
Vou votar em um "pipuco".

Estou muito resoluto
Não negocio nem discuto
Fique você nervoso ou de luto
Seja besta ou astuto
Não mudo meu discurso
Vou votar em um "pipuco".

E se alguém bancar o bruto
Me chamando de matuto
Ou me acertar o cocuruto
Digo em tom bem arguto
Que estou sendo muito justo
E vou votar em um "pipuco".

Mas espero um minuto
Que se ainda houver tumulto
Minha ideia não disputo
E quem me vier a ser inculto
Enfiarei de modo bruto
Pela goela o candidato "pipuco".


sábado, 11 de janeiro de 2014

Escurecia

Luz de candeeiro,
cresce a sombra no vai e vem
da velha parede alta
que sempre parece menor
que a minha saudade.

sábado, 4 de janeiro de 2014

Cheira a guerra




Notícias na TV,
com cara de anjo
que trás um milagre do céu.
Ninguém vê o lobo
vestindo o cordeiro
que diz ser a solução.

Lutas por paz,
Lutas pelo bem
e o desejo de poder se erguerá.

O homem da América diz que é bom
e que não vai ficar parado,
mas sua palavra de paz cheira a guerra.
O homem da América diz que é bom
e que resolverá tudo,
mas sua palavra de amor
cheira a morte.

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Impostos para o Rei





.

Disparo sem alvo
Ninguém quer me ouvir
Palavras sem caminho
Ou ouvidos pra seguir.

Levanto todo dia
Procurando explicação
Por que é tão imensa
A fome do leão.

Deito já dormindo
na cama do dragão.
Imposto para o rei
Que come minhas mãos.

Será que todos se esconderam?
Ou foram presos na TV?

Nunca na nossa história,
correntes foram tão invisíveis
como são agora.
Ninguém aqui é livre.
Joga fora!
Seu sangue, suor e vontade.
Vá embora!
Não aceite essa esmola.

domingo, 29 de dezembro de 2013

Animais da Pista




Na passagem de animais,
Também passa gente,
dos quais poucos sabem falar.
Outros nem sabem o que fazem.
Na passagem de animais,
é preciso ter cuidado,
pois eles sabem como se ferrar
e também como nos ferrar.
Na passagem dos animais
(que nós colocamos lá).
Sempre se pode ouvir
um outro perguntar:
"-Vossa excelência me concede um aparte?"